VOLTO PELO MESMO MOTIVO ANTERIOR

Sou da teoria que algumas coisas acontecem em ciclos naturais, uma espécie de bola de neve conspiratória e insconsciente. É como um bocejo, uma pessoa faz e todos o fazem depois. Casamentos para mim são assim, quando um amigo seu casa, todos os outros começam a fazer o mesmo.

No último post escrevi sobre o casamento do meu melhor amigo (não resisti a piada) Johnny Paul. Pois no dia 23 foi a vez da minha prima irmãzinha Carol, ou melhor Nina. Desta vez não fui, e nem vi ainda como estava a noiva. Mas tenho certeza de que devia estar linda, num vestido discreto é classudo, como seria de se esperar da Carol.

Algumas semanas antes dela subir ao altar, eu estava na praia. Caminhando a noite, na beira do mar, um turbilhão de sentimentos povoavam minha cabeça. E nessas crises de lá vêm os trinta, me veio o recém casamento do João a mente misturado com saudades, e logo em seguida a idéia de que agora era a vez de Carol dizer sim.

Fiquei triste pela consciência de que não poderia ir. E também de como é triste ver pessoas saindo da sua vida. Não que elas deixem de ser importantes, mas deixam de ser presentes. Em outros tempos eu, sem excessos de confiança, teria sido o padrinho ou coisa que valha. Mas nos dias atuais, nem mesmo presente na Igreja estaria, e não estive.

Essa sensação é muito ruim. Quando pequenos, éramos inseparáveis. Não havia quem não dissesse que aquelas crianças loirinhas e de pele bronzeada não eram irmãos. E jurávamos ser inseparáveis sempre. Moraríamos numa mansão em estilo oriental, com um barco no jardim (chamado Mississipi) quando fossemos grandes, no ano 2000. Éramos como aquelas duplas perfeitas, amigos de alma. Algo muito raro de existir na vida real. Crescemos, talvez ela mais que eu. E ficamos distantes, ainda na mesma cidade.

De repente tínhamos espinhas e a Guliverlândia ficou guardada em um caixa de papelão. O ruim de amadurecer é que achamos que pirar é coisa de criança, e vamos esquecendo que a felicidade está nas coisas simples que se pode imaginar. E nunca mais brincamos de Revolução Francesa, coisa que duvido que alguma outra criança fizesse. Nos reencontramos algumas vezes mais. Mas só nos reencontramos de verdade num dia muito feliz, que ironicamente era uma despedida.

Não só um do outro, já que ela logo partiria pra Recife. Mas despedimo-nos de ideais, de uma vida inteira (já que eu logo mudaria também), e de nossa avó, símbolo sagrado de nossas infâncias perfeitas. Aquele dia foi um daqueles cujas lembranças fazem parecer que durou uma semana. A última garrafa de champagne em MEU apartamento.

Agora casou-se a Carol no mês do seu aniversário, que romântico. Felicidade aos noivos, neste novo começo. Apesar dos pesares, sei que ela mudou para uma vida melhor. Que também está no começo, mas já dá alguns frutos que valem a pena. Mas ainda lembro com carinho dos primos todos reunidos enjambrando tobogãs no SESI, coisa que nossos filhos provavelmente não compartilharão.

Aliás, ter filhos é outra coisa que acredito vir em ciclos (vide que os primos geralmente tem a mesma faixa etária). Mas acho que isso ainda demora um pouquinho. Assim espero, pelo menos. Ainda sou muito novo (e pobre) pra ser tio.

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Nada a ver com o assunto, mas esses dias frios e chuvosos me dão uma vontade de ouvir Jan & Dean. Só eu mesmo pra ouvir surf music dos anos 60 em dias nublados.

Escrito ao som de Little Old Lady From Pasadena, porque Rhythm of the Rain seria óbvio demais.