THOSE SMALL HOURS UNCERTAIN AND ANXIOUS

O termômetro marcava 12º, mas nossos rostos rosados davam a sensação de que a noite estava muito mais fria que isso. Caminhávamos lado a lado, mãos no bolso, compartilhando um silêncio de cumplicidade.

Desta vez a falta de palavras não era constrangedora. Embora alguns instantes anteriores possam ser descritos assim. Não saber o que dizer não é pior do que não saber o que fazer. Na confusão da minha cabeça, buscava uma maneira de descrever o que assisti, enquanto tentava pensar um assunto para quebrar o gelo.

Vez ou outra o silêncio era quebrado com algum comentário sobre qualquer coisa. Mas logo depois calávamos novamente. E assim seguíamos, contemplando a beleza da Avenida Paulista à noite. O inverno concede ao local uma aura ainda mais peculiar, uma beleza solitária. Não respirávamos fumaça, soltávamos fumaça quando respirávamos. Porém eu não era parte daquilo, não me sentia sozinho como as pessoas em seus carros. Não mais. Eu não estava com todos os meus amigos, mas estava com meu amigo ali do lado.

Eu estava com o filme Magnólia no bolso, mas este não era mais o meu filme favorito. Acabará de ver Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, e me dera conta de que não tenho motivos para querer expor os sentimentos alheios. Para que eu queria ver isto? Pra fingir ser superior ou solidário? Não fazia menor sentido, e eu não soube o que fazer. A não ser, talvez, ignorar a técnica e deixar os meus sentimentos falarem comigo.

In the dark night, By my Side era a trilha daquela cena. Eu não dizia nada, mas sabia que minha retina queimava aquela cena no celulóide de minhas lembranças. Andamos uns 900 metros, na velocidade de sempre. Talvez 15 minutos (ou menos) entre a Consolação e Brigadeiro. Mas pareceu-me horas. Ainda não estávamos indo embora, mas eu sabia que logo deitaria a minha cabeça no travesseiro e tudo aquilo viraria ontem, e cada dia seguinte tornaria o momento mais distante. Enquanto pensava nisto, ouvia minha narração em off, como se já estivesse recordando, ao melhor estilo Kevin Arnold.

De repente, o silêncio é quebrado mais uma vez:

- Aquele não é o Marcelo Camelo?

Não tenho certeza, mas quero pensar que sim. Para que estragar minhas recordações?

Enquanto escrevia este post, tocou (na seqüência): Quem Sabe, dos Los Hermanos (do Camelo) e agora toca Save Me, do Remy Zero. Nunca tinha ouvido estas músicas no rádio...