arrumar meu quarto é mais do que um festival de papel indo para o lixo, é uma garimpagem de momentos recentes que a memória não ajuda a reter. Poesias perdidas, post nunca publicados, frases desconexas de ódio ou simplesmente sem tema e muitos desenhos desformes e ainda nomes de músicas que estou com vontade de ouvir mas não estou a fim de procurar.

Meu computador tá sem memória (tenho menos de um giga) e isso me faz ver que preciso organiza-lo, limpa-lo. Reflexo da minha vida e sentimentos. Muitos destes papéis que serão levados amanhã pelos lixeiros continham coisas que o covarde aqui nunca vai dizer pessoalmente, que vão ficar acumulando até a mente travar como a memória do meu computador. O post de hoje seria mesmo em tom de desabafo, mas eu estava sem conexão e não o coloquei. Depois fiquei feliz por não o ter feito, poderia repecurtir mal como já aconteceu antes. Então, outra coisa que me magoou ficará guardada ocupando espaço da minha memória Ram de algo que não posso formatar.

O resultado eu já conheço, além de um mau humor disfarçado, a minha cabeça explode, meu nariz sangra e acabo no banheiro vomitando de nervoso. Mais um domingo normal na vida de um fracassado. “não é nada não mãe, só acho que fiquei gripado” é mais fácil justificar assim de portas fechadas. Ainda mais que se pode completar com algum tom repreensivo confortante para que está de fora (ou seja, todos). É melhor tomar bronca do que me explicar.

Pode parecer que sou chorão demais (e é verdade), mas to cansado de ser sempre o compreensivo. De me expor e ninguém me ver. De ver que as pessoas, apesar de tudo, ainda não confiam em mim. Eu não sou só o cara alegre e meio perverso. Meu sorriso tá cada vez mais pesado e eu insisto em carrega-lo.

É sempre assim, algo me incomoda e vai incomodar sempre. As poucas vezes que tomo iniciativa sou visto como o vilão da história. Eu nunca tenho direito a ficar zangado, porque não sei defender essa minha posição. To sempre agindo como um ursinho carinhoso dopado de Prozac, mas qualquer hora isso me causará uma sobredose.

O pior é não as palavras claramente ditas, mas alguns olhares que se entregam. Instintos provam que apesar das boas intenções, ainda existem restrições quanto a minha pessoa. E sinceramente eu nunca dei motivos para isto. Então eu simplesmente os evito, para não descobrir algo que não quero.

Ontem assisti Efeito Borboleta. Eu nem vou com a cara do Ashton Kuchter (nem sei como escreve e fiquei com preguiça de checar). Mas ele até que me surpreendeu como ator dramático. Não vou descrever o filme, quem quiser saber do que se trata vá ler uma crítica de alguém que valha a pena. Só comento que ele descobre uma propriedade no seu cérebro (ou sei lá aonde) que lhe permite voltar no tempo e interferir no seu destino e de seus amigos. Isso permite-lhe consertar algumas coisas, mas acaba estragando outras. Eu queria poder ter este talento, de poder ouvir no telefone que fulano acabou de se matar, e depois, poder voltar no tempo e reverter tal situação. De mudar a vida daquele seu amigo que enlouqueceu e fazer dele um boyzinho feliz e alienado de sua antiga infância desgraçada. E quem sabe de você mesmo.

Mas isto não existe, e eu nunca consegui mudar o destino de ninguém para algo que fosse ao menos um pouquinho melhor, então provavelmente não o conseguiria mesmo. O jeito é viver na saudade de quando as coisas ainda eram boas e nossos pesadelos de criança ainda eram com demônios que sumiam quando acendíamos a luz.

Se eu não posso mudar o passado, quem sabe um dia eu não seja um escritor tão medíocre e consiga fazer um roteiro onde uma geração de garotos perdidos possa ter uma segunda chance. Quem sabe um dia eu tenha talento suficiente (HAHaha) para fazer um filme que façam os outros chorarem como eu choro no cinema, e desperte aquela sensação de saudade do que poderia ter sido nos outros também. Quem sabe eu ainda veja aquela galera reunida tocando Guns no violão.

Por enquanto, me conformo com as coisas simples, como abraçar um amigo que já não via a meses. E o caloteiro aqui esqueceu de pagar a Cinthya, que acabou bancando minha entrada no cinema.

Quanto a intenção original do post, de falar da confusão de impressões realçadas ontem. Fica perdido, nunca dito, como a maioria das outras coisas que nunca vou falar. Se um olhar raivoso não me agrada, o de decepção também não me fará bem.

Ao menos não me prendo mais em gatilhos ou bengalas.