NÃO CONSEGUIREI DORMIR ESTA NOITE

Não fazem nem cinco minutos e eu brigava com o sono para conseguir terminar meu trabalho de antropologia. Mas daí o telefone tocou, com cara de má notícia. A voz da minha irmã veio confirmar meu medo. Ela está bem doente e já pensei em algo relacionado a ela, ou ao meu cunhado que deveria voltar de viagem hoje. Quando ela não quis me dizer o que era, e pediu pela minha mãe, eu gelei um pouco.

A notícia: meu tio José (irmão mais novo de minha mãe) acabará de falecer. Teve um infarto aos 47 anos. Fazia anos que eu não o via, e pra falar a verdade, eu não gostava dele. Não sei se isso é uma opnião preconceituosa de criança (que precisava ser revista), e nem quero entrar nestes méritos agora. Só sei que fiquei bastante triste, porque, embora não nos dassemos bem, ele sempre discutiu comigo de igual. Nunca me considerou uma criança ao defender seu ponto de vista, e eu vejo isto como uma forma de respeito. Sócrates já dizia: eu posso não concordar com nada do que você diga, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-lo.

Bom, to divagando muito, mas é que a cabeça voa para tentar encarar o invetável. Pensei que minha mãe ficaria arrasada. Em menos de um ano perdeu sua mãe, seu esposo e agora seu irmão caçula. Não ficou (mas sei que ela ira chorar quando eu apagar a luz do meu quarto, daqui a pouco). Acho que o termo certo para seu comportamento foi resignação. Um conformismo que incomoada, mas que domina. Denunciando que a revolta de nada serve, a não ser machucar ainda mais. Não culpo minha mãe de estar cada vez mais decidida a voltar para o sul.

Chega uma hora em que você tem que parar de lutar. Que a única coisa que você deseja é poder viver sua vida, e poder compartilha-la com quem se ama. Chega uma hora que a realização pessoal é poder dizer adeus a quem se quer bem.

Eu já devia ter aprendido a lidar com isso, mas ainda me assusto... Desculpem a confusão do post inesperado, mas to escrevendo o que vêm a cabeça. Se existise alguma forma de expressar o que sinto, ela também seria bem confusa. Como estas linhas que estou escrevendo.

Fico pensando no meu primo Cléber. Não o vejo desde que tinha 12 anos, mas fico pensando em como ele vai lidar com a falta do pai. Não me dou bem com o meu, mas nessas horas dá um medo de perde-lo. Ouvir minha mãe rezando completa a sensção de vazio dentro de mim...

Queria saber o que dizer para confortá-la, queria ter dinheiro para poder mandá-la ao funeral, queria ter alguém pra deitar no colo como uma criança assustada. Mas acho que eu que terei que oferecer meu colo na noite de hoje...